quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Reportagem super interessante

Encontrei essa reportagem no site da Revista Nova Escola e achei super ,enão decidi compartilhar com vocês leitores do blog.

Caderno: vitrine da classe, espelho do aluno

Anne-Marie Chartier (novaescola@atleitor.com.br)

Sugestões aos professores sobre o uso do caderno

Que sugestões dar aos professores que se perguntam sobre o uso do caderno na aula hoje?

A primeira coisa a ser destacada é que o caderno tem inúmeras funções. Assim, mesmo que ele não seja objeto de aprendizado, os alunos aprendem muito cedo a identificar os ensinamentos ligados à escrita e aqueles que não deixam traço nos cadernos: o esporte, a música e outras atividades escolares que eles adoram. Os estudantes descobrem muito rapidamente que seu valor escolar é frágil, mesmo que o prazer dado por eles seja forte. Do mesmo jeito, eles aprendem que certas atividades se repetem todos os dias e são controladas pelo professor, enquanto outras são quinzenais ou raras, podem acabar ou não em escritos e são ou não avaliadas. A hierarquia em termos de importância de disciplinas ensinadas (do ponto de vista escolar) é, portanto, em relação à sua frequência, a seus escritos, à sua avaliação.

A segunda coisa a sublinhar é que, graças ao caderno, as crianças têm a primeira experiência de uma produção de longo prazo. Elas não são completamente autoras, mas em grande parte escribas. De um ponto de vista simbólico, o trabalho cotidiano de escrita é gratificante se ele reforça o sentimento de competência e de êxito. É um sofrimento sem fim se ele revela à criança a imagem brutal de sua impotência e de sua incompetência. É por isso que se pode passar muito rápido sobre a questão da apresentação. Ela não tem mais importância para os "bons alunos", já que, atrás de suas escritas rápidas e feias, os professores são capazes de ver o exercício bem-sucedido. Mas e os outros? Com um caderno amassado, rabiscado, qual o aluno tem vontade de se dedicar? Fazer um esforço de concentração? É por isso que tantos professores recorrem às vantagens do computador ligado a uma impressora para permitir que os estudantes produzam textos corretos (quer dizer, revisados com a ajuda do corretor), que merecem ser impressos. O problema surge porque os alunos são muitas vezes mais lentos ao digitar do que quando escrevem à mão. Ao esperar que a digitação faça parte das aprendizagens comuns e que os cadernos sejam substituídos por telas, alguns professores redescobriram o interesse em conservar - ao lado dos "cadernos de aprendizagem", em que o aluno responde às consignas do exercício - o equivalente escolar do "portfólio", um "belo caderno", em que cada um possa estocar amostras de seus saberes manuscritos e digitais. Essas produções datadas e assinadas (letras decoradas, um pequeno texto escrito sem nenhum erro, uma poesia ilustrada, um desenho científico perfeitamente realizado, uma série de operações, uma mensagem pessoal bem articulada) só são inseridas no "belo caderno" se o professor e o aluno estiverem de acordo sobre a excelência de sua qualidade: nada de pressa.

Em uma época em que a publicidade, os jornais e os textos corporativos são tão ciosos de sua apresentação e da diagramação, seria paradoxal que a escola ficasse indiferente a essa dimensão da escritura, o que seria tão contraprodutivo quanto esse aprendizado. É fácil democratizar, como testemunham os cadernos do passado. Todas as crianças que se aplicarem podem fazer rapidamente grandes progressos, mesmo que elas por outro lado passem por dificuldades conceituais duradouras. Ora, constatar por si mesmo que se é capaz de fazer muito bem evita a autodepreciação, o aluno restabelece a autoestima em relação a suas capacidades e enche de gratidão os pais no que diz respeito ao professor. Essa é a condição necessária (mas não suficiente) a todos os aprendizados.

O terceiro e último ponto: os professores devem estar conscientes de que, pelo caderno de seus alunos, finalmente torna-se fácil avaliar-se. Avaliar suas escolhas pedagógicas: eles seguem um manual ou não; instalam rotinas tranquilizadoras ou, ao contrário, não param de variar a forma dos exercícios; fazem escrever muito ou pouco; os traços escritos são em geral acabados ou incompletos; a progressão das atividades é clara ou não: as atividades são datadas ou não. Também é possível adivinhar muito de sua personalidade por meio de suas escolhas textuais e de seu jeito de corrigir os cadernos, encorajar ou estigmatizar as crianças ao se dirigir aos pais.

Só podemos, então, encorajá-los a olhar com um pouco mais de atenção os cadernos de seus alunos.

Bibliografia
- Chartier, Anne-Marie (2002). Um dispositivo sem autor: cadernos e fichários na escola primária. Revista Brasileira da História da Educação. Nº 3. P. 9-26.

- Chartier, Anne-Marie (2007). Cadernos escolares: organizar os saberes escrevendo-os. Revista de Educação Pública. Universidade Federal de Mato Grosso. V. 16. Nº 32. www.ie.ufmt.br/revista.

- Chartier, Anne-Marie (2007). Práticas de leitura e escrita, História e atualidade. Belo Horizonte: UFMG-Ceale. Autêntica.

- Santos, A. A. C. (2008). Construindo modos de conversar com crianças sobre sua produções escolares. Em Marilene Proença Rebello de Souza (org.). Ouvindo crianças na escola: abordagens qualitativas e desafios metodológicos para a psicologia. São Paulo: Casa do Psicólogo.

- Mignot, A. C. V. (org.) (2008) Cadernos à vista: escola, memória e cultura escrita. Rio de Janeiro: Ed. Uerj.

- Santos, A. A. C. (2007). Uma proposta de olhar para os cadernos escolares. Em Beatriz de Paula Souza (org.). Orientação à queixa escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo.

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