O que um professor de Biologia que fez o Enem 2015 tem a dizer sobre a prova
Rubens Oda é Diretor de Ensino no Descomplica, Coordenador da Olimpíada Brasileira de Biologia e professor.
Neste ano, pela primeira vez, experimentei
fazer os dois dias de ENEM. Gostaria de relatar minhas considerações
sobre a prova para a “posteridade”, a fim de que os alunos que vão
passar por esta experiência
malditarelembrem todos estes fatos nos próximos anos.
PRIMEIRO DIA
1. Entrar com muita antecedência no local
de prova, achar a sua sala, sentar e ficar olhando para a cara dos
fiscais: tudo isso é horrível. Um aprendizado que tive no primeiro dia
de Enem e que utilizei no segundo dia de prova foi: chegue muito antes
do horário no local de prova, mas deixe para entrar de verdade faltando
uns quinze minutos para os portões fecharem. Desta forma você poderá
ficar no celular, conversando com amigos, lendo alguma coisa… Ou seja,
não terá que ficar olhando para uma parede na espera do tempo passar. O
único risco desta estratégia é sobrar um lugar muito ruim na sala para
você sentar. Como o índice de faltas no Enem é de cerca de 20%,
dificilmente o pior lugar da sala será ocupado por você.
2. Leve muita comida. De qualquer forma
você terá que esperar os tensos 30 minutos antes da prova começar, por
isso, leve bastante comida e bebida para evitar que elas acabem nesta
meia hora. Bala é uma boa pedida, já que você leva mais tempo para
acabar com um pacote.
3. Coloque tudo o que você tiver no bolso
da calça dentro do saquinho de segurança que o fiscal te entregará e que
será lacrado! Coloque tudo mesmo! Neste ano um aluno foi eliminado
porque, ao ir ao banheiro, o detector de metais apitou e ele tinha
apenas moedas no bolso.
4. O tempo me pareceu OK para o primeiro
dia de prova. Se o aluno não perder tempo com questões mais difíceis,
ele consegue terminar a prova tranquilamente no tempo previsto.
A prova de Ciências Humanas
Terminei meu Ensino Médio há exatos 22
anos. Logo, há tempos não vejo uma aula de Ciências Humanas. Em minha
época não tive aulas de Sociologia e Filosofia, então, eram muitos os
empecilhos para fazer uma boa prova.
Nesse ano a prova veio bastante
contextualizada, com questões sobre gênero e sobre os impactos sociais
da engenharia genética. Vale ressaltar que o vocabulário utilizado é bem
diferente do vocabulário utilizado pelo adolescente. A leitura é, sem
dúvida, uma das habilidades que você precisa ter para fazer a prova.
Conteúdos de Geografia e História foram abordados de maneira pouco
objetiva, logo, uma boa leitura muitas vezes supriu as carências de
conteúdo que eu eventualmente apresentava. Resultado: 36 acertos.
A prova de Ciências da Natureza
De acordo com todos os professores que
conheço, a prova deste ano foi a mais difícil desde sempre. Em Biologia,
conteúdos pouco tradicionais na prova como órgãos dos sentidos,
primeiros socorros e aneuploidias apareceram. A conclusão é que o INEP
está trabalhando para que o ENEM não seja mais uma prova somente de Meio
Ambiente e Saúde.
Em Física e Química, muitos dos itens
pediam “o valor mais próximo de”. Isso significou muitas contas com
valores quebrados e muita perda de tempo. Uma dica: nestes casos,
arredondar os valores pode acelerar a resolução das contas e permitir
que você chegue ao item certo com mais rapidez. Questões do cotidiano
continuaram aparecendo, como a pressão da geladeira, os pesticidas, as
embalagens, e o meio ambiente serviu como pano de fundo para a cobrança
de questões de conteúdos mais específicos. Para os próximos anos,
estejam preparados para muita conta, fórmulas e conteúdos específicos
de Biologia, Química e Física! Resultado: 37 acertos.
SEGUNDO DIA
Para não cometer o mesmo erro do primeiro
dia de prova, entrei faltando quinze minutos para os portões fecharem.
Levei mais comida e a meia hora que antecede a prova passou voando.
Escolhi fazer redação primeiro e acho que
foi uma boa escolha. Como alguém em sã consciência consegue faze uma
redação após 90 questões do Enem?
Redação
O tema “A persistência da violência contra
a mulher na sociedade brasileira” pareceu fácil a todos. O tema foi
muito discutido ao longo do ano e havia várias referências para uso na
argumentação. Fiz, antes de escrever a minha redação, um brainstorm sobre
o que gostaria de escrever e depois fiz o rascunho. Mudei algumas
coisas na hora da transcrição da redação e, agora, é esperar para ver.
No total, gastei uns 45 minutos na redação.
Linguagens
Terminei a redação e fui direto para
Linguagens. Não tive nenhuma dificuldade com as questões de Inglês.
Prova fácil, direta, e sem problemas a quem tem um mínimo de vocabulário
e interpretação.
Já o caderno de Linguagens… Achei tudo
muito cansativo. Os textos eram grandes e me fizeram, em determinado
momento, sentir dor de cabeça (sem exagero). A prova, como esperado, foi
baseada na interpretação de textos (em todas suas formas). Assim como
na prova de Humanas, o vocabulário é muitas vezes rebuscado e um aluno
que não tenha hábito de leitura pode ficar completamente perdido na
resolução do caderno de Linguagens. Algumas questões, ao que me pareceu
(e, aqui, desculpe-me pela dúvida), cobraram conteúdos de História e
Sociologia. Resultado: 36 acertos.
Matemática
Completamente exausto, de saco cheio,
querendo gritar e ir embora, comecei a prova de Matemática. De acordo
com os professores Alex e Matias, que lecionam no Descomplica, as
questões podem ser divididas em:
- Fácil para Humanas
- Fáceis
- Média,
- Difíceis
- Difíceis para o diabo
Fiquei feliz por utilizar, em muitas
questões, razão e proporção, regra de três e outros conteúdos básicos.
Por outro lado, conteúdos como a fórmula de volume do cilindro e a área
do trapézio me fizeram falta. Ou seja, o Enem tem muitas questões com
interpretação? Sim, mas estudar Matemática a fundo é importante para
você ter um resultado diferencial. Terminei a prova faltando dez minutos
para o término do exame, ou seja, o aluno não pode dar bobeira, caso
contrário, NÃO DÁ TEMPO de resolver todas as questões. Resultado: 31
acertos.
Minha consideração final é: para fazer uma boa prova, você tem que ter algumas habilidades básicas. São elas:
- Paciência
- Bagagem cultural
- Leitura
- Interpretação
- Treino
- Estudo, estudo, estudo
O ENEM, no viés mais conteudista que vem
se consolidando de dois anos para cá, mostra que a rotina de estudo do
aluno deve ser feroz para que seu resultado seja superior ao dos seus
concorrentes. Partiu um treinamento pesado para gabaritar em 2016?
Fonte: http://desconversa.com.br
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