Romã contra o Alzheimer
Pesquisadores desenvolvem microcápsulas da fruta para prevenir e tratar
o mal. Ricas em antioxidantes, elas podem ser adicionadas a sucos sem alterar o
sabor e sem causar efeitos colaterais.
A literatura sugere que consumir casca de romã pode ser um
jeito simples e eficaz para prevenir e tratar o mal de Alzheimer. O problema
está no gosto. O sabor adstringente da casca da fruta não atrai o consumidor.
Pensando nisso, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram
microcápsulas contendo extrato de casca de romã que podem ser diluídas em sucos
sem incomodar o paladar.
Segundo Maressa Morzella, engenheira de alimentos que desenvolveu a
pesquisa durante seu mestrado, a casca da romã tem grande quantidade de
antioxidantes – compostos essenciais para prevenir doença de Alzheimer. “A
casca é riquíssima em flavonoides, antioxidantes que impedem a ação de
radicais livres e evitam a morte de neurônios”, explica.
Na doença neurodegenerativa, a produção de radicais livres aumenta por
conta da ligação de substâncias tóxicas chamadas oligômeros aos neurônios. Esses radicais livres provocam perda
de função e morte dessas células. “O cérebro é altamente susceptível ao ataque
de radicais livres já que, entre outros aspectos, tem pouca glutationa, um
antioxidante natural do corpo humano”, diz Morzella.
Apesar de ter quase dez vezes mais antioxidantes do que a polpa, o gosto
ruim da casca da romã faz com que ela seja pouco consumida. Para mascarar esse
sabor, Morzella revestiu extratos da casca com um filme protetor feito de
polímeros, compondo uma microcápsula. “A microencapsulação elimina o sabor
desagradável da casca de romã sem perder os compostos que atuam contra o
Alzheimer”, explica.
Para testar a eficácia da microencapsulação na eliminação do gosto ruim,
os pesquisadores desenvolveram duas receitas de suco de uva – uma comum e outra
enriquecida com 4% de microcápsulas de casca de romã. Dos 44 consumidores que
provaram os dois sucos sem saber qual era qual, apenas 9 conseguiram
identificar diferenças entre os sabores.
Em favor das lembranças
Além de prevenir, as microcápsulas de romã podem auxiliar no tratamento
do mal de Alzheimer ao impedir a degradação da acetilcolina, neurotransmissor
essencial para o processo de formação da memória e que se encontra em baixa
quantidade no cérebro de quem tem a doença. “A ação conjunta de compostos da
casca pertencentes às classes dos alcaloides e flavonoides inibe a enzima
acetilcolinesterase, que é responsável pela degradação da acetilcolina”,
explica Morzella.
De acordo com o estudo, a ingestão de 2,48 miligramas de extrato da
casca de romã consegue fazer com que a atividade da acetilcolinesterase caia
pela metade, o que permite o funcionamento de neurônios que usam esse
neurotransmissor para se comunicar. Atualmente, o mal de Alzheimer já é tratado
com medicamentos que inibem a enzima, mas que são caros e provocam efeitos
colaterais como náusea e vômito.
De acordo com a orientadora do estudo Jocelem Salgado, pesquisadora da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, as microcápsulas passarão
por novos testes antes da comercialização. “No momento, estamos fazendo testes
para detectar exatamente quais dos compostos presentes na casca apresentam
maior contribuição para prevenir e tratar o mal de Alzheimer e, depois disso,
serão desenvolvidos estudos com animais e humanos”, diz a pesquisadora.
Fonte Ciência Hoje On-line/ Mariana Rocha
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