terça-feira, 29 de agosto de 2017

Desenvolver competências socioemocionais na escola. Como?

COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS


As competências socioemocionais incluem um conjunto de habilidades que cada pessoa tem para lidar com as próprias emoções, se relacionar com os outros e gerenciar objetivos de vida, como autoconhecimento, colaboração e resolução de problemas. Essas competências são utilizadas cotidianamente nas diversas situações da vida e integram o processo de cada um para aprender a conhecer, aprender a conviver, aprender a trabalhar e aprender a ser. Ou seja, são parte da formação integral e do desenvolvimento de todos. No século 21, a interconectividade e a crescente complexidade das transformações sociais, tecnológicas, entre outras, têm ampliado a relevância dessas competências para a realização no âmbito pessoal, de trabalho e social.
Perseverança, colaboração, autocontrole, curiosidade, otimismo e confiança são exemplos de competências socioemocionais que devem ser trabalhadas no ambiente escolar, a fim de estimular o desenvolvimento integral da criança, do adolescente e do jovem. 

Ceará prepara professor para escola com a cara da juventude
Despertar o interesse e garantir a aprendizagem do estudante do ensino médio estão entre os maiores desafios da educação brasileira. O mais recente alerta veio com a divulgação dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2013, em que o país repetiu os 3,7 registrados em 2011 e ficou abaixo da meta proposta pelo MEC (Ministério d Educação) de 3,9. Apesar do quadro desolador, existem, sim, experiências que buscam virar a chave para dar sentido à experiência escolar e valorizar o aluno.
Foi diante desse cenário que o estado do Ceará começou a mudar a cara de suas escolas. Em 2009, levou aos colégios a metodologia do programa Com.Domínio Digital, realizado em parceria com o Instituto Aliança, que oferecia aulas de tecnologia da informação no contraturno escolar. Dois anos mais tarde, a Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc) percebeu a necessidade de realizar uma maior integração desses conteúdos à grade regular das escolas, após a Unesco divulgar um protótipo curricular que defendia o protagonismo estudantil, a interdisciplinaridade, o ensino baseado em projetos, a pesquisa e a abordagem de competências socioemocionais.
“A gente percebe que um fator crítico é a relação do profissional e da instituição com o jovem, sua visão de mundo e seus anseios”
O primeiro passo foi pensar em um currículo que tivesse a cara da juventude. “A gente percebe que um fator crítico é a relação do profissional e da instituição com o jovem, sua visão de mundo e seus anseios”, diz Rogers Vasconcelos, coordenador de aperfeiçoamento pedagógico da Seduc. “Era importante que a história de vida dos alunos fosse pauta curricular. Estudantes tinham que ter espaço para conhecer suas características e habilidades sociais, para falar de ética, sexualidade e projeto de vida”, diz.

Por mais que precisasse de ajustes, esse novo desenho curricular não colocou tudo abaixo. Em vez disso, buscou articular o ensino das áreas de conhecimento com ciência, pesquisa e trabalho, entendidos como eixos integradores. Em 2012, a entrada dessas novas práticas na sala de aula da rede estadual foi noticiada pelo Porvir. Inicialmente, o projeto foi adotado por 12 escolas (oito em Fortaleza, duas na região metropolitana e duas no interior) que já participavam do Com.Domínio Digital. “Elas nos relatavam o quanto a metodologia do projeto fazia com que o estudante tivesse autoestima elevada, perspectiva positiva sobre a família e seu projeto de vida. Por isso, decidimos casar o Com.Domínio Digital e os protótipos [da Unesco] com o que a gente tentava implantar nas escolas”, afirma
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Nascia ali o que ficou conhecido como “Núcleo Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais”. De acordo com Vasconcelos, a partir do momento em que o estudante é desafiado por um projeto, ele consegue enxergar a totalidade do que lhe é ensinado, ao contrário do que acontece quando se trabalham as disciplinas de forma isolada. “Quando desenvolve um projeto de pesquisa, o estudante pode aproveitar o que estudou em história, física e química. É vivendo a experiência da busca que ele consegue aprender de forma integrada”. Desde 2012, o programa mais que triplicou a quantidade de envolvidos, que já somam 25,6 mil estudantes em 87 escolas.
O ensino médio redesenhado no Ceará
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Novo curso, novo aluno, novo professor
Para que a escola se apresentasse como um espaço para o aluno se manifestar e ter autonomia em seu próprio aprendizado, foi preciso olhar de uma outra maneira também para a formação de professores. Isso porque o professor do Núcleo exerce um papel de agente mobilizador e articulador dentro das escolas, atuando com os demais docentes e com a equipe gestora, formada por diretor e coordenadores pedagógicos.
Ao longo de 2012, equipes do Instituto Aliança e dos professores que deram o pontapé inicial dos núcleos desenvolveram atividades diversas, com foco em cinco grandes ações: 1) articulação de gestores, professores do Núcleo, professores da Escola, técnicos da Seduc; 2) criação e estruturação do material didático-pedagógico; 3) capacitação por imersão, continuada e em serviço 4) monitoramento e avaliação do processo e 5) sistematização da prática.
“A metodologia busca provocar no professor uma reflexão sobre suas práticas, crenças e sobre seu olhar diante de alunos com multiplicidade de sonhos e de desejos com os quais ele vai ter que conviver na escola”
O conteúdo oferecido pelo Núcleo é implantado gradativamente até completar o ciclo do ensino médio. São duas aulas semanais de duas horas para o Desenvolvimento de Práticas Sociais (DPS) acompanhadas de uma hora de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que facilitam a aquisição de habilidades digitais necessárias para a elaboração das pesquisas.
“A metodologia busca provocar no professor uma reflexão sobre suas práticas, crenças e sobre seu olhar diante de alunos com multiplicidade de sonhos e de desejos com os quais ele vai ter que conviver na escola”, explica Eveline Corrêa, coordenadora do Instituto Aliança. Segundo ela, o importante é que o docente entenda que isso também representa um ganho, e não um problema. “Se tentar pela força, nunca vai chegar a um diálogo genuíno”.
Para tratar do impacto das dificuldades enfrentadas no dia a dia em sala de aula, a formação de professores tem como foco o desenvolvimento da autoestima do docente. Esse acaba sendo o maior desafio para o professor do Núcleo, segundo a professora Ana Izabela Nascimento, da Escola Estadual de Ensino Médio João Mattos, localizada no bairro Montese, em Fortaleza, no Ceará. “A relação entre professor e aluno numa disciplina de Núcleo é sempre holística, porque está sempre na construção do Eu. Você está mudando sua maneira de pensar e sua subjetividade”, diz. Ela conta que um facilitador de sua relação com os estudantes foi a proximidade. “A principal conquista aconteceu quando eles perceberam que eu estava disponível sempre que eles precisavam. O trabalho não aconteceu somente na escola, mas também quando eu estava em casa aos finais de semana, com emails, leituras e tutorias”.
O caminho para inserção da nova metodologia também precisa vencer alguns obstáculos. Dentro das próprias escolas, existem professores que criticam a proposta que supostamente tira espaço de matérias cognitivas como física e matemática e “do conteúdo para o Enem”. Além disso, o trabalho de formação que é intencionalmente mais participativo e questionador, deixa alguns com o “pé atrás”. “Eles começam o ano questionando, mas mudam quando chega a época da apresentação das pesquisas e percebem os meninos mais motivados”, diz Eveline.
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Ao mesmo tempo em que tenta tirar o educador da “zona de conforto”, a metodologia o abastece para garantir maior segurança, com matriz curricular, fichas pedagógicas e planos de aula. Além do material teórico, a formação docente é apoiada em dinâmicas de grupo, supervisão técnica e estudos temáticos. Nas reuniões, discute-se, por exemplo, o papel da escola pública e do ensino médio e os professores participam de experiências que depois realizarão com seus alunos. Logo no terceiro encontro de formação, acontece o exercício chamado “Memória fotográfica”, quando cada educador apresenta ao grupo uma fotografia marcante de seu passado. “Essa atividade fala muito e fortalece o pertencimento e a identidade, porque eles passam a ser reconhecidos por aquilo em que se dizem fortes”, diz Eveline. Ao reproduzir a atividade com seus aluno, o professor já “sentiu na pele” os seus resultados.
Por conta de experiências como essa, a professora Maria Flávia Coelho, do primeiro ano da escola João Mattos, se diz transformada. Ela conta que sempre se preocupou em inovar e “não deixar alunos parados”, mas essa formação específica para o Núcleo a ajudou a adotar um novo posicionamento na sala de aula. “A preocupação com o bem-estar do aluno e seu protagonismo era o que faltava. Hoje ainda dou aula de geografia em outra escola e percebo como mudei nas minhas ações”. A estratégia tem dado resultados com estudantes cada vez mais comunicativos e tomando a iniciativa para envolver os demais em debates e atividades em grupo. “Eu lembro da escola da Ponte, em Portugal, em que educadores atuam como colaboradores. Hoje em dia, não cabe mais o autoritarismo em sala de aula. Autoridade é importante, porém ter na cabeça que você é um colaborador muda a forma de ver o aluno. Você passa a respeitar, a entrar na vida do aluno e a entender por que ele não participou hoje, mas vai participar na próxima aula”.
Precismos aprender ainda mais sobre o assunto!!!


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